05 janeiro 2011

Papo rápido sobre Diabetes Mellitus

Definição

Diabetes mellitus é uma doença que caracteriza-se pelos valores sanguíneos de glicose (um açúcar simples) que são anormalmente altos dado que o organismo não libera insulina ou utiliza-a inadequadamente.
Com frequência os profissionais de saúde usam o nome completo de diabetes mellitus para distinguir esta doença da diabetes insípida, mais rara. As concentrações de açúcar (glicose) no sangue variam durante o dia. Aumentam depois de cada refeição, recuperando-se os valores normais ao cabo de duas horas. Estes situam-se entre 70 e 110 miligramas por decilitro (mg/dl) de sangue durante a manhã depois de uma noite de jejum normal, sendo inferiores aos valores de 120 a 140 mg/dl ao cabo de duas horas da ingestão de alimentos ou líquidos que contenham açúcar ou outros hidratos de carbono. Os valores normais tendem a aumentar ligeiramente e de modo progressivo depois dos 50 anos de idade, sobretudo em pessoas que levam uma vida sedentária.

Etiologia
A insulina, é um hormônio produzido pelo pâncreas, e é a principal substância responsável pela manutenção dos valores adequados de açúcar no sangue. Permite que a glicose seja transportada para o interior das células, de modo que estas produzam energia ou armazenem a glicose até que a sua utilização seja necessária. A elevação das concentrações de açúcar no sangue depois de comer ou beber estimula o pâncreas para produzir a insulina, a qual evita um maior aumento dos valores de açúcar e provoca a sua descida gradual. Dado que os músculos utilizam glicose para produzir energia, os valores de açúcar no sangue também diminuem durante a actividade física.

Causas

A diabetes manifesta-se quando o corpo não produz a quantidade suficiente de insulina para que os valores sanguíneos de açúcar se mantenham normais ou quando as células não respondem adequadamente à insulina. Na denominada diabetes mellitus tipo 1, a produção de insulina é escassa ou nula. Apesar de se tratar de uma doença com uma alta prevalência, só 10 % de todos os diabéticos tem a doença tipo 1. A maior parte dos doentes que sofrem de diabetes tipo 1 desenvolvem a doença antes dos 30 anos.

Os cientistas acreditam que um fator ambiental (possivelmente uma infecção viral ou um fator nutricional na infância ou na adolescência) provoque a destruição, pelo sistema imunitário, das células que produzem a insulina no pâncreas. É mais provável que seja necessária uma predisposição genética para que isto aconteça. Seja como for, na diabetes tipo 1 mais de 90 % das células que produzem a insulina no pâncreas (células beta) são destruídas de uma forma irreversível. A deficiência insulínica consequente é grave e, para sobreviver, uma pessoa com esta afecção deve injectar-se regularmente com insulina.

Na diabetes mellitus tipo 2, o pâncreas continua a produzir insulina, inclusive em valores mais elevados que os normais. Contudo, o organismo desenvolve uma resistência aos seus efeitos e o resultado é um relativo défice insulínico. A diabetes tipo 2 aparece nas crianças e nos adolescentes, mas em geral começa depois dos 30 anos e é mais frequente a partir desta idade. Cerca de 15 % dos doentes maiores de 70 anos sofrem de diabetes tipo 2. A obesidade é um factor de risco para a diabetes tipo II, já que os obesos se contam entre 80 % e 90 % das pessoas que sofrem desta doença. Também certas etnias e alguns grupos culturais correm um maior risco de desenvolver esta perturbação, sendo frequente, entre os que a sofrem, a existência de antecedentes familiares.

Outras causas menos comuns da diabetes são os valores anormalmente altos de corticosteróides, a gravidez (diabetes gestacional) e os medicamentos e substâncias tóxicas que interferem com a produção ou os efeitos da insulina, aumentando os valores de açúcar no sangue.

Sintomas
Os primeiros sintomas da diabetes relacionam-se com os efeitos directos da alta concentração de açúcar no sangue. Quando este valor aumenta acima dos 160 a 180 mg/dl, a glicose passa para a urina. Quando o valor é ainda mais alto, os rins segregam uma quantidade adicional de água para diluir as grandes quantidades de glicose perdida. Dado que produzem urina excessiva, eliminam-se grandes volumes de urina (poliúria) e, por conseguinte, aparece uma sensação anormal de sede (polidipsia). Como se perdem demasiadas calorias na urina, também se dá uma perda de peso e, como compensação, a pessoa sente muitas vezes uma fome exagerada (polifagia). Outros sintomas compreendem visão esfumada, sonolência, náuseas e uma diminuição da resistência durante o exercício físico. Por outro lado, se a diabetes está mal controlada, os doentes são mais vulneráveis às infecções. Por causa da gravidade do défice insulínico, é frequente que nos casos de diabetes tipo I se perca peso antes do tratamento. Em contrapartida, não acontece a mesma coisa na diabetes tipo 2.

Nos diabéticos tipo 1 os sintomas iniciam-se de forma súbita e podem evoluir rapidamente para uma afecção chamada cetoacidose diabética. Apesar dos elevados valores de açúcar no sangue, a maioria das células não podem utilizar o açúcar sem a insulina e, portanto, recorrem a outras fontes de energia. As células gordas começam a decompor-se e produzem corpos cetónicos, compostos químicos tóxicos que podem produzir acidez do sangue (cetoacidose). Os sintomas iniciais da cetoacidose diabética são: sede e micção excessivas, perda de peso, náuseas, vómitos, esgotamento e, sobretudo em crianças, dor abdominal. A respiração torna-se profunda e rápida porque o organismo tenta corrigir a acidez do sangue. A respiração da pessoa cheira a acetona. Se não se fizer nenhum tratamento, a cetoacidose diabética pode progredir e levar ao coma, por vezes em poucas horas.

Os pacientes que sofrem de diabetes tipo 1 podem mostrar os sintomas da cetoacidose, mesmo depois de iniciado o tratamento com insulina, se se esquecerem de uma injecção ou se tiverem uma infecção, um acidente ou uma doença grave. A diabetes tipo II pode não causar qualquer sintoma durante anos ou décadas. Quando a deficiência insulínica progride, os sintomas começam a manifestar-se. No princípio, o aumento da micção e da sede são moderados, embora piorem gradualmente com o decurso do tempo. A cetoacidose é uma afecção rara. Se a concentração de açúcar no sangue for muito elevada (superior a 1000 mg/dl), em geral devido ao stress provocado por uma infecção ou um medicamento, produz-se desidratação grave, confusão mental, sonolência, convulsões e uma afecção denominada coma hiperglicémico hiperosmolar não cetónico.

Complicações
À medida que a perturbação se desenvolve, as concentrações elevadas de açúcar no sangue lesam os vasos sanguíneos, os nervos e outras estruturas internas. Substâncias complexas derivadas do açúcar acumulam-se nas paredes dos pequenos vasos sanguíneos, provocando o seu espessamento e ruptura. Este aumento de espessura é a causa que faz com que os vasos sanguíneos forneçam cada vez menos sangue, sobretudo para a pele e para os nervos. Os valores de açúcar pouco controlados também tendem a aumentar as concentrações de substâncias gordas no sangue e, por conseguinte, verifica-se uma arteriosclerose acelerada (formação de placas nos vasos sanguíneos). A arteriosclerose é de duas a seis vezes mais frequente nos diabéticos do que nos não diabéticos e produz-se tanto nos homens como nas mulheres. A diminuição da circulação sanguínea, tanto pelos vasos grandes como pelos pequenos, pode provocar alterações fisiológicas no coração, cérebro, pernas, olhos, rins, nervos e pele, demorando também a cura das lesões.

Por todas estas razões, a diabetes implica o aparecimento de muitas complicações graves durante um tempo prolongado. Os ataques de coração e os acidentes vasculares cerebrais são muito frequentes. As lesões dos vasos sanguíneos do olho podem provocar a perda da visão (retinopatia diabética). A função dos rins altera-se e tem como resultado uma insuficiência renal que requer diálise. As lesões nervosas manifestam-se de várias maneiras. Se só um nervo funciona mal (mononeuropatia), aparece uma debilidade característica num braço ou numa perna. Se os nervos das mãos, das pernas e dos pés são lesados (polineuropatia diabética), pode aparecer uma sensação anómala em forma de formigueiro ou de dor ardente e fraqueza nos braços e nas pernas. As lesões dos nervos da pele predispõem para lesões repetidas porque a pessoa perde a sensibilidade para perceber as mudanças de pressão ou de temperatura. Um fraco afluxo de sangue à pele também provoca úlceras e faz com que todas as feridas sarem muito lentamente. As úlceras da pele podem tornar-se tão profundas e infectadas e ser tão difícil a sua cura que pode mesmo ser necessária a amputação de uma parte da perna.

Há indícios recentes que demonstram que as complicações da diabetes podem ser evitadas, demoradas ou atrasadas, mediante o controlo dos valores de açúcar no sangue. Existem também outros factores desconhecidos, incluindo os genéticos, que determinam o curso dos acontecimentos.

Diagnóstico
Estabelece-se o diagnóstico de diabetes quando uma pessoa tem valores anormalmente elevados de açúcar no sangue. Muitas vezes controlam-se os valores de açúcar no sangue durante um exame anual de rotina ou durante um exame clínico que se realize antes da integração num novo emprego ou da prática de desporto. Também podem efectuar-se análises para determinar a possível causa de sintomas, como aumento da sede, da micção ou da fome, ou se existirem factores de risco característicos, como antecedentes familiares de diabetes, obesidade, infecções frequentes ou qualquer outra complicação associada com a diabetes.

Para medir a concentração de açúcar no sangue obtém-se uma amostra de sangue do doente, que deverá estar em jejum pelo menos 8 horas antes do exame, podendo-se também obter depois de comer. É normal um certo grau de elevação dos valores do açúcar no sangue depois de comer, mas mesmo então os valores não deverão ser muito elevados. Nas pessoas com mais de 65 anos é melhor realizar o exame em jejum, dado que os idosos têm um maior aumento das concentrações de açúcar no sangue depois das refeições.

Há outro tipo de análise de sangue, chamado a prova de tolerância oral à glicose, que se realiza em certos casos, como quando se suspeita que uma mulher grávida tem diabetes gestacional. Nesta prova obtém-se uma amostra de sangue em jejum para medir o valor de açúcar e fornece-se ao doente uma solução especial para beber, a qual contém uma quantidade normalizada de glicose. Durante as 2 ou 3 horas seguintes colhem-se várias amostras de sangue.

Tratamento
O objectivo principal do tratamento da diabetes é manter os valores de açúcar no sangue dentro dos valores normais tanto quanto possível. Embora seja difícil manter valores completamente normais, deve-se tentar que estejam na medida do possível perto da normalidade, para que seja menor a probabilidade de complicações, quer sejam temporárias, quer a longo prazo. O principal problema ao tentar controlar rigorosamente os valores de açúcar no sangue é que se produza uma diminuição não desejada dos mesmos (hipoglicemia).

O tratamento da diabetes requer o controlo do peso, exercício e dieta. Em muitos casos de diabetes tipo 2, a administração de medicamentos não seria necessária se os doentes obesos perdessem peso e fizessem exercício com regularidade. Contudo, reduzir o peso e aumentar os exercícios é difícil para a maioria dos diabéticos. Por conseguinte, com frequência é necessário recorrer a uma terapia substitutiva ou então a uma medicação oral com hipoglicemiantes. O exercício favorece a descida directa das concentrações de açúcar no sangue e reduz a quantidade necessária de insulina.

A dieta é muito importante. Em geral, os diabéticos não devem comer demasiados alimentos doces e têm de regular as suas refeições com um programa uniforme. Contudo, comer um bocadinho antes de deitar ou durante a tarde evita por vezes a hipoglicemia nas pessoas que se injectam com uma insulina de acção intermédia de manhã ou à tarde. Dado que as pessoas com diabetes têm também tendência a apresentar valores altos de colesterol, os dietistas em geral recomendam limitar a ingestão de gorduras saturadas. Não obstante, o melhor modo de reduzir os valores do colesterol é controlar as concentrações de açúcar no sangue e o peso corporal.

Outra estratégia a seguir é fornecer ao diabético toda a informação que seja considerada necessária sobre a sua doença e que o pode ajudar a controlá-la. Todos os diabéticos devem saber como a dieta e os exercícios afectam os valores de açúcar no sangue e estar conscientes de como evitar as complicações, por exemplo, controlando as ulcerações da pele. Também devem ter especial cuidado em evitar as infecções dos pés. Para tal seria útil recorrer a um pedicuro para cortar as unhas dos pés. As inspecções oculares anuais são essenciais para controlar possíveis alterações dos vasos sanguíneos, as quais podem ocasionar cegueira (retinopatia diabética).

Em caso de lesões ou de aumento ou descida das concentrações de açúcar no sangue, os diabéticos deverão levar sempre consigo um cartão ou usar uma pulseira de alerta médico que identifique a doença. Se os profissionais de saúde souberem da existência de diabetes, podem iniciar rapidamente um tratamento que salve a vida do afectado.



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